segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

escrevo-te porque não o posso fazer

enquanto adormeço às escondidas

vou dizendo a mim mesma que te sinto

não te

sinto

recomeça o estilhaçar das manhãs

que me são desconhecidas

aquelas em que te acordava com o bater da porta

da rua

e te zangavas comigo por fazer barulho.


é-me indiferente que passes

ou não

e me tapes a luz cor-de-laranja

que atravessa sorrateira a tua cortina

porque é através do silêncio do relógio

que me recolho de palavras

e te minto.


de tudo me esqueci

e não importa por que mares navegas agora

se todas as tuas águas se diluíram

no meu corpo

não importa

porque é na espera da tua resposta

enquanto arrefeço uma chávena de café

que todo o mundo implode

e eu espero

não me ames.


nessas manhãs eu flutuava

corpo uniforme sob a tua cama

e tu nada nunca me pediste

e eu nada te dei.


não

enlouqueci ainda

mas pouco falta

vejo agora como tudo era vertiginoso

querer-te

e por isso não te quero mais

ainda que tenha os olhos enlameados

de sorrir por um passado que

não

existiu.

3 comentários:

Cisco disse...

Muito bom ;)

A. disse...

O pequeno abraço é o gesto que te deixo neste instante e não é compaixão ou enternecimento ou admiração...é um abraço, um pequeno ligar-se a ti

pedro pereira neto disse...

Gosto.