escrevo-te porque não o posso fazer
enquanto adormeço às escondidas
vou dizendo a mim mesma que te sinto
não te
sinto
recomeça o estilhaçar das manhãs
que me são desconhecidas
aquelas em que te acordava com o bater da porta
da rua
e te zangavas comigo por fazer barulho.
é-me indiferente que passes
ou não
e me tapes a luz cor-de-laranja
que atravessa sorrateira a tua cortina
porque é através do silêncio do relógio
que me recolho de palavras
e te minto.
de tudo me esqueci
e não importa por que mares navegas agora
se todas as tuas águas se diluíram
no meu corpo
não importa
porque é na espera da tua resposta
enquanto arrefeço uma chávena de café
que todo o mundo implode
e eu espero
não me ames.
nessas manhãs eu flutuava
corpo uniforme sob a tua cama
e tu nada nunca me pediste
e eu nada te dei.
não
enlouqueci ainda
mas pouco falta
vejo agora como tudo era vertiginoso
querer-te
e por isso não te quero mais
ainda que tenha os olhos enlameados
de sorrir por um passado que
não
existiu.
3 comentários:
Muito bom ;)
O pequeno abraço é o gesto que te deixo neste instante e não é compaixão ou enternecimento ou admiração...é um abraço, um pequeno ligar-se a ti
Gosto.
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