Alguém que lhe cale a voz, que me está a levar à loucura. E a língua dele, a língua dele, na minha e na dela ao mesmo tempo ao mesmo tempo ao mesmo tempo e eu a querer a vertigem, eu a querer mergulhar na curva onde o pescoço dele se esconde e se transforma, e a lingua dela na minha e na dele nesse momento. E eu até o sabia. Alguém que lhe cale a voz, não posso mais, que loucura. Porque me continuo a matar aos bocadinhos por dentro? O que é que fazemos sentados em todos os bancos da cidade nocturna?, e uma legião de olhos pousados em nós do outro lado de todas as ruas que nos perguntam o que fazemos. O que fazem aí? E em todas as esquinas um grito, em todos os degraus uma mão, em todas as camas eles os dois, e mais gente, muita gente, toda a gente menos eu. As minhas pessoas. Onde foram?, quem foram?, onde dormem? Eles transpiram, eu sei. Ele diz que, ele diz deixa-me esconder-me no teu cérebro, deixa-me tocar o teu corpo, deixa-me abrigar-me no teu peito. Eu encolho-me, eu não transpiro, não respiro. Não respondo. Ele pergunta - o que é que ele perguntou? Ele afinal gosta de mim. Sinto a língua dele nos meus caminhos, e a sombra dela nas bermas desses caminhos, e calo-me.
Não te posso deixar abrigar.
Não quero.
Isso não vai acontecer.
Não te posso deixar abrigar.
Não quero.
Isso não vai acontecer.
1 comentário:
gostei tanto que nem te consigo explicar. gostei genuinamente, abanou-me. escreves bem, Diana, mesmo.
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