costumo perguntar-me se te dás ao trabalho de recordar a minha textura. e perguntas-me porquê, porquê. porque ficas horas à noite, horas a olhar o abismo escuro dentro das pálpebras dos teus olhos - e chamam-lhe noites em branco... - a decorar fantasmas, a reaquecer memórias que te dão uma falsa e confortável sensação de ignorância re-adquirida mas que se esfuma quando os passáros começam a cantar a manhã à nossa janela. porque pensas em texturas. porque me posso lembrar de ti, tocar a tua presença surreal e invisível na escuridão. porque a tua pele é como cinzas a fugir-me por entre os dedos. porque já me esqueci dos teus contornos, das linhas que formam a tua existência, e agarrar-me à tua textura é agarrar-me a ti e não me desvanecer no presente. porque a única razão pela qual ainda te conheço e sei quem és é porque estou presa a ti todos os segundos de que são feitos todos os minutos e todas as horas. porque de repente és a escuridão do meu eclipse, e se dantes era eu quem habitava o negro agora sobrevivo nas noites em branco. não sei se é caso de te agradecer, uma vez que nada fizeste por isso e não sei bem se gosto desta nova condição. e lembro-me de ti, quando não-dormias ao meu lado, quando as noites brancas eram as tuas, ficavas toda a noite a dar corda ao teu relógio no sentido contrário, como se isso te desse os dias de volta. não deu.
"o passado? por aqui."
acorda, meu amor. já é de dia. e é de dia que o amor absoluto se afoga no conformismo - e perguntas-me tu porque não durmo de noite?
1 comentário:
Ja (es)correu a face...
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