Ponto final

Amor. Ponto final.
Afinal o canto caiu-lhe mal, azar o dele.
E ele pediu
não me cales,
não me sufoques o
imperdoável.
Não me ilumines, quero ser sombra ténue.
Sombra ténue e sufocada
na pele áspera que arde no teu ombro.

Amor. Ponto final.
E afinal o fim era o princípio,
amantes esterilizados da fome que era a falta de ar.
O fim era a manhã inevitável, surrealista,
o comboio que parte à meia-noite da estação abandonada,
inevitavelmente
abandonada.

Amor. Ponto final.
E ele pediu
não me devores,
não me prendas no teu caos.
Tentou ser triste
e pediu
que não o magoasse.

Amor. Ponto final.
E ele caiu,
pediu que lhe fizesse sombra,
que lhe apagasse a luz dos olhos cegos,
que lhe calasse a voz dos cantos roucos,
que o deixasse voar o voo dos sós.
Ama-me,
ele pediu
que o amasse.
Que o amasse ou quisesse amar-te ou querer-te.
Vou perdendo a noção,
ele disse
que perdera o ponto final.

Amor. Ponto final.
Não lho dei, azar o dele.
E ele sorriu,
implorou que o deixasse ir,
que o deixasse ir.
Devora-me,
pediu ele.
E eu passei.

07.03.2008